quinta-feira, 9 de julho de 2015

Voltei. Tive que tirar férias das artes, se isso é possível. Não, não é possível, tanto que voltei. E agora é pra ficar, porque aqui, aqui é meu lugar...

domingo, 14 de dezembro de 2014

 Eu não sou a Garota do Fantástico.

Estar onde todos gostariam de estar. Era onde eu sempre estive. E odiei cada segundo em que minha vida foi aclamada adequada, bem sucedida e invejada. Eu falava, e todos me ouviam. Mas falava o quê? A única coisa que sei é que ouvidos sorridentes aplaudiam ao fim dos meus discursos sem fim. Eu devia ser interessante, pensava. Escolhi a profissão correta no vestibular. Estudei até a vida nada interessante de Oficiais Generais da ditadura brasileira.
Eu era a ditadura da minha vida.
O que estava fazendo ali, conversando com aquelas pessoas que tinham grandes egos moldados merdamente correta? Mas, ora, eu ganhei dinheiro. Mas, ok, namorei os médicos que nunca cometeram o erro de renascer seus pacientes. Ganhei tantos certificados que faltavam gavetas para guardar.
E quem me tirou dali? Do chão limpo, do banheiro que cheirava à pinho, dos amigos que bebiam na medida durante a confraternização de Natal? Quem me impediu de dar aquele livro da Hilda Hilst no amigo oculto da família? Quem me salvou da vida e me jogou no limbo, me amarrou nas grades, entupiu-me de terra e fechou o poço?
Não sei se agradeço à Deus ou ao Diabo. Eu não sou a Garota do Fantástico. Todas as televisões ligadas domingo à noite e eu não estava lá. Ninguém mais me via, ouvia, sentia, entendia, queria. Estava gelada como uma serpente sem pele durante sua ressurreição.

Olho e não vejo nada além do que um fio de luz vindo da superfície. Suficiente para iluminar o poço e a lama que batem em minhas coxas. Enfim, é o momento exato de me tornar lótus. 

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Matar o que não nascera. Eis a forma prática que ela encontrara para viver sem ele. Sim, porque o amor que ela tanto queria extinguir, arrancar as vísceras, lançar ao fogo as heresias da quinta de madrugada, jamais nascera. Ele nunca a amou. E o amor, ensaio realístico de uma vida almejada fora, outrossim, alucinação. Ela perdera-se no ópio da necessidade egóica de ser alguém e, encontrara nele, sujeito sapiente da sua presente ausência, realidade fastamagórica. Ele estava sem nunca estar, beijava sem salivar, comia sem pecar. Um ser admiravelmente irreal. Para ela dolorosamente humana.
Comprara facas, serrotes, barbitúricos, fuzis e até cordas. Em vão, furava o horizonte de lembranças construídas em sua mente, apenas. Diálogos absurdos jamais proferidos eram estraçalhados por tiros no ar. E o amor que ele não amara era, por fim, dissecado das entranhas dela, com raiva e compaixão.
Matar o que não nascera. Eis a forma louca que ela aprendeu para matar a sua desacompanhada paixão.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

98) Confortably Numb - Pink Floyd

Vinda num dos álbuns mais pesados, existencialmente falando, do Pink Floyd, o The Wall (1979), e talvez o mais famoso também, essa música é um soco em todos os meus órgãos vitais. Inicia-se com uma pergunta que parece idiota ( "tem alguém aí?"), mas que torna-se a mais difícil de responder. Geralmente, quando olhamos para nós mesmos, não nos encontramos. Sim, não é comum estarmos em nós. Desconhecemo-nos. A todo momento. Fazemos coisas cotidianamente que não faríamos, falamos coisas que não queríamos, vivemos uma vida que não escolhemos. "tem alguém aí?"
Continua com perguntas retumbantes: "pode me mostrar onde dói?" "tem alguém em casa?" "pode se levantar?", ao mesmo tempo em que mostra aquela despedaçada esperança de fim de túnel que, embora tão cliché, só abandona os corajosos suicidas. É nessa esperança que a música ganha sua substancialidade. Estar confortavelmente entorpecido é estar nessa vida comum cotidiana classe-média clássica em que me encontro, e se encontra você que lê isso aqui. Realidade que deixa o entorpecimento algumas vezes e nos faz cair, para nos levantar logo depois, melhores ou piores, mais entorpecidos ou mais realistas. Isso é se tornar adulto? Diria eu num dos trechos extintos da música. Roger e David diriam que sim. Que só extraíram esse excerto da música por pura distração. Isso é ser um adulto comum classe-média hipócrita no hemisfério Sul da América, Lais. Mas "eu posso aliviar sua dor".


segunda-feira, 27 de maio de 2013

99) Lanterna dos Afogados - Paralamas do Sucesso




Um carrinho de rolimã. Radinho de fita-cassete vermelho do meu irmão. Meu tio, primos, amigos, irmão e a pirralha aqui querendo entender as conversar de "pré-adolescentes". Nas fitas, RPM´s, Legiões, Titãs, Kids, e Paralamas. E uma música deles que me doía já, aos 5 anos. Imaginar alguém sozinho, no meio do mar, esperando alguém que podia demorar (e demorou), era tão doído, tão sofrido, mas tão lindo, que quase aprendi, ali, o que era poesia. mas isso eu aprendi pouco tempo depois (outro dia conto como conheci a poesia).
Nunca me esqueci que à noite a gente podia chorar, à vontade. Quando tá escuro. E que há uma luz no túnel. Eu que nem sabia que o túnel seria tão largo, ermo e profundo. Ainda não sabia o que era uma lanterna no mar. Nem que havia uma para os afogados. Só esperava veementemente que ele (ou ela) não demorasse.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

As 100 músicas da minha vida



Uma vida. 100 músicas. Poderiam ser 1000, assim como poderia nem ter havido vida. Mas houve. E digo houve, porque só poderei falar das 100 músicas essenciais para os 32 anos, 1 mês e 18 dias ( se a conta não for essa, ganhei ou perdi dias por ai). Música pra mim não é arte. Não. É além. É comida. É bebida. E arte é algo que não é constituinte para a vida humana. Dá até pra abrir mão. Mas música não. Venho à óbito. Portanto, se quiserem me ver viva ainda por muito tempo, sempre toque uma dessas cem "arroz com feijão" aqui.

100) O mundo anda tão complicado - Legião Urbana



Intimidade. Casamento. Amor. Tudo o que DEVE ser esperado por um casal. Sem fru fru, sem delongas, com os amigos, com os defeitos e as qualidades de cada um. A melodia é uma delicia. E o intérprete Renato tem o mesmo gosto que eu: ver o amado dormir que nem criança!